A importância da cola na luteria de instrumentos de autor e nas oficinas de alto padrão

M. De Laet • September 6, 2025

Por que o tipo de cola utilizado na construção de instrumentos é importante na Luteria de alto padrão?

TUDO SOBRE COLAS



A maioria das pessoas não passa muito tempo pensando em cola. Porém, os luthiers - em especial os de formação tradicional clássica - pensam muito, e é um assunto muito mais interessante do que você imagina!

O tipo de cola usada em um instrumento musical pode afetar sua longevidade e nossa capacidade de reparar o instrumento, o que significa que é importante garantirmos que estamos usando a melhor cola possível. Mas qual tipo de cola é a melhor para fazer instrumentos musicais? A maioria dos luthiers de cordas friccionadas diria "cola animal". Aliás, na luteria tradicional, a cola animal é a preferida para ser utilizada tanto para colagens, quanto na preparação de tapa-poros ou selantes. Normalmente são preparadas com a utilização da pele e dos ossos dos animais, como também com a bexiga natatória de algumas espécies de peixes cartilaginosos.


Podemos encontrá-las no mercado em placas ou na forma granulada. O ideal é que sua coloração seja uniforme e transparente. Em água fria, precisam possuir grande poder de absorção sem se dissolverem. Quanto maior for a quantidade de água absorvida, melhor será a qualidade da cola, pois mais firme será a sua estrutura.



PRAZER, SOU A COLA DE GELATINA, MAS PODE ME CHAMAR TAMBÉM DE COLA ANIMAL, COLA COQUEIRO, HIDE GLUE...


A frase “cola de pele de animal” pode fazer as pessoas pensarem nos animais - principalmente para quem se preocupa com a causa animal (e eu confesso que sou um deles) - que são enviados para fábricas para serem transformados em cola. No entanto, esse não é o caso. A maior parte da cola de gelatina é feita de cartilagem de gado, que está prontamente disponível devido ao consumo em massa de carne bovina em todo o mundo. A pele de gado que não pode ser usada como couro é enviada para fabricantes de cola para transformá-la em cola. Embora pareça horrível, significa que há menos desperdício proveniente da produção de carne bovina.


Os materiais albuminóides (colágenos e elastinas) contidos nos tecidos dos animais, quando tratados com água quente ou vapor, produzem a glutina, que é uma proteína e o principal componente dessas colas e gelatinas. Sendo assim, a cola animal é apenas uma versão processada de uma proteína estrutural chamada colágeno, que é encontrada em muitos animais, incluindo nós, seres humanos.


O colágeno é quase 1/3 de toda a proteína do corpo animal e humano. É uma molécula grande e fibrosa que torna a pele, os ossos e os tendões fortes e elásticos. Conforme envelhece, o corpo produz menos colágeno e as fibras individuais de colágeno ficam ligadas de forma cruzada umas com as outras. Percebemos isso nas articulações mais firmes (dos tendões menos flexíveis) ou nas rugas (que é basicamente a perda da elasticidade da pele).


Em suma, a gelatina que comemos é a mesma cola usada na luteria e vem do colágeno dos ossos, cascos, peles, tecidos de ligação de vacas ou porcos, além de, como dissemos anteriormente, de bexigas natatórias de algumas espécies de peixes. A única diferença é que a cola não recebe o processo de purificação por não ser usada para alimentação.


A cola de gelatina é um adesivo milenar, que remonta aos antigos egípcios. Os antigos egípcios usavam principalmente cola animal para construir os móveis encontrados nas tumbas dos faraós. Isso é evidenciado pelas esculturas em pedra encontradas representando o aquecimento da cola e o processo geral de colagem, bem como a cola ainda intacta nas cadeiras daqueles túmulos. Ela é uma cola de longa duração!


Muitos devem estar se perguntando. "Ele afirma que é uma cola de longa duração, mas muitos dos colegas luthiers dele afirmavam que "não prestava". Qual o motivo de funcionar com os luthiers tradicionais e não ter um bom resultado com os luthiers autodidatas e práticos?" E a explicação, curiosamente, vem da própria ciência. Vamos lá!


Á temperatura ambiente, a proteína da gelatina fica na forma de uma espiral tripla. É uma estrutura claramente organizada, parecida com a do DNA que, diferente da proteína da gelatina, possui duas cadeias de nucleotídeos trançadas juntas num formato de espiral. Na proteína da gelatina, as três cadeias são de aminoácidos separadas (cadeias de polipeptídeos) que se alinham e são trançadas uma em volta da outra, e a espiral é unida por ligações fracas que se formam entre os aminoácidos localizados dentro da estrutura enrolada.


Ao acrescentar água e aquecê-la, as fracas ligações que unem essas tranças são quebradas e, com isso, a cola derrete. A energia da água aquecida é suficiente para quebrar as fracas ligações que unem as tranças. Então a estrutura helicoidal se desfaz e as cadeias de polipeptídeos ficam flutuando na solução.


Quando a mistura se esfria, as cadeias de polipeptídeos começam a se reassociar e a formar novamente a estrutura helicoidal tripla. Entretanto, o processo de resfriamento é lento e as tranças ficam muito separadas na mistura, e, por isso, as espirais não se formam perfeitamente. Por esse motivo, em alguns lugares, a espiral tem falhas e, em outros, só há uma cadeia de polipeptídeos enrolada. Quando a gelatina se esfria, a água entra nestas falhas entre as cadeias.


Somente quando a cola está totalmente seca é que a estrutura se reorganiza, mesmo com falhas, motivo pelo qual deve-se evitar o reaquecimento muitas vezes.


Durante a preparação, é necessário um certo controle de temperatura de fusão, de forma a não ultrapassar 60°C, com o intuito de garantir um melhor poder adesivo. Deste modo, a maneira mais prática de se preparar a cola é em banho-maria.


É prudente preparar em pequenas quantidades, a fim de não produzir sobras, pois o reaquecimento também diminui o poder de adesão (a espiral vai se quebrando, se degenera e não se liga totalmente). Caso ocorram sobras de material, elas podem ser utilizadas para colagens de partes que não sofram grandes esforços. como blocos, contrafaixas e também a colagem do tampo dos instrumentos de cordas friccionadas (como os violinos), já que esta normalmente é a parte retirada para acessar o interior dos mesmos, facilitando com isso o trabalho de descolagem.


Mas por que os luthiers tradicionais ainda usam cola de gelatina quando existe hoje todo um mundo de adesivos sintéticos disponíveis no mercado? Em última análise, nenhum adesivo sintético tem as mesmas propriedades que a cola de gelatina e suas similaridades estruturais com a estrutura celular da madeira. Ela é solúvel em água, o que significa que se cometer um erro ao colar duas peças, é fácil reverter essa falha sem danificar a madeira de forma alguma. Mas, isso também significa que a alta umidade e as mudanças na umidade irão afetá-la, assim como inevitavelmente afetará a madeira devido a sua capacidade higroscópica (que podemos tratar em outro artigo). É por isso que as junções do violino se abrem com facilidade. A cola de gelatina é muito duradoura. Ela não perderá sua resistência com o tempo, como acontece com outras colas. Também é muito fácil personalizar a resistência da sua cola de gelatina. Por exemplo, ao unir dois pedaços de madeira para criar o tampo ou o fundo do violino, você deseja uma cola incrivelmente forte que não se desfaça. Porém, ao colar a faixa ao tampo do seu violino, você pode usar uma cola mais fraca, para que se o mesmo violino precisar de um reparo que exija a remoção da parte superior, seja fácil fazê-lo sem danificar ainda mais o instrumento.


É possível encontrar no comércio colas puras, extraídas somente de uma das partes do animal, como a cola de pele, cola de osso, além da cola de peixe ou ictiocola, mas no Brasil, o que mais se encontra é uma mistura de cola de pele com cola de osso, que possui menor viscosidade e dissolução mais tênue, porém apresenta grande resistência.


As gelatinas são comercializadas de acordo com sua habilidade de formar gel. São graduadas em termos de Bloom ou força de gelificação, que é uma medida standard da força aplicada para provocar uma depressão em um gel de concentração e temperatura padronizadas.


Existe correlação entre a força de gel e concentração de gelatina, sendo possível, na prática, produzir qualquer firmeza necessária no gel com qualquer tipo de Bloom, somente mudando-se a sua concentração, quando utilizadas em alimentos, porém quando utilizadas como cola, principalmente em peças submetidas à tração ou torção, nem sempre isso é possível.


Uma propriedade importante da gelatina é sua capacidade de formar géis termo-reversíveis, além de possuir um ponto de fusão por volta de 25-35°C, e jamais deve ultrapassar os 40°C, a fim de preservar sua estrutura.


OUTRAS OPÇÕES DE COLA PROTEICAS


COLA DE CASEÍNA


Embora a maioria dos luthiers use cola animal, alguns optam por usar cola de caseína ou cola de peixe.

A caseína é uma proteína encontrada no leite que pode ser dissolvida em um solvente alcalino para criar cola. Aliás, essa cola foi desenvolvida em 1917 por um suíço chamado Oscar Messmer, que a denominou como "kaltlein", que significa cola fria, já que a cola até então era somente a de colágeno, que necessariamente era aplicada a quente. A cola de caseína começou a ser usada na colagem de madeira na construção de aviões e, por ter melhor resistência à água, é bastante utilizada na produção de compensados de madeira. Ela pode suportar melhor a umidade e as mudanças de temperatura e, por essa razão é uma opção utilizada por alguns luthiers também. No entanto, a cola de caseína possui uma preparação mais complexa e é muito mais difícil de remover do que a cola animal, o que pode dificultar os reparos. Por isso, é utilizada numa composição mais simples por alguns luthiers como tapa-poros para o tampo de  instrumentos de corda, oferecendo grande resistência superficial.

A fórmula da cola geralmente é essa:

- 1Kg de caseína em pó

-225g de cal virgem moído

-35g de bórax


Mistura-se os ingredientes desde que estejam perfeitamente secos. Coloca-se em um frasco que deve ser armazenado em local seco. Para utilizar, retira-se uma porção da mistura, acrescenta-se água até formar uma papa. Aguarde 10 a 15 minutos até que haja a reação química. Após isso, use o material a frio e sem pressa.

Esta cola é tão forte, que permite a colagem de madeira com vidro e até com metais, porém na luteria torna-se inconveniente sua utilização em função da irreversibilidade.


Fórmula para utilização como tapa-poros:

1kg de caseína em pó

220g de cal virgem

Esta mistura pode ser preparada e guardada nas mesmas condições da mistura anterior. Caso não se consiga um bom resultado, pode-se acrescentar um pouco de bórax a fim de ativar a reação química.


COLA DE PEIXE


A cola de peixe é feita a partir da pele e das bexigas natatórias de peixes cartilaginosos, como o esturjão. Tem um tempo de trabalho muito maior do que a cola de gelatina e não é escorregadio, por isso pode facilitar um pouco a colagem. Porém, a cola de peixe leva muito mais tempo para curar do que a cola de gelatina, por isso não é muito conveniente para luthiers que trabalham em um ambiente com ritmo acelerado.


COLAS QUÍMICAS


Os luthiers tradicionais evitam utilizá-las, pois praticamente todas são irreversíveis, dificultando operações de descolagens para reparos, como as colas à base de cianoacrilato (bonders), poliéster, epóxi, araldite, etc.

As chamadas colas brancas e as amarelas, à base de PVA (acetato de polivinila), além da irreversibilidade são plásticas, e por isso absorvem parte das vibrações produzidas no instrumento, agindo como “amortecedores”, prejudicando o rendimento sonoro do mesmo. Aliás, se você é guitarrista e acredita no poder de influência da madeira em instrumentos elétricos e nunca se preocupou com o tipo de cola utilizado na junção de suas partes, ganhou mais um item para se preocupar!

Brincadeiras à parte, o uso de colas PVA em instrumentos de alto padrão na luteria tradicional (instrumentos acústicos de autor) é extremamente raro devido a preocupação na interferência da resposta vibracional do instrumento. E, convenhamos, a preocupação é válida, haja vista que a matéria prima utilizada por um autor que constrói um instrumento em torno de 25 mil euros foi selecionada rigorosamente dentro de uma rara pré-seleção de grades elevadas por seus fornecedores (Master Grade, AAA ou, quando figuradas 5A, por exemplo). Este material extremamente escasso e de alto valor econômico merece todas estas preocupações para extrair todo o potencial oferecido por ele. E é por isso que, de forma prática, são instrumentos com uma melhor resposta e oferecem mais recursos para músicos de concerto.


Iremos encontrar a presença de colas PVA na junção de placas de tampos e fundo, por exemplo, apenas em instrumentos de oficina e de fábrica, ou de luthiers que produzem instrumentos de corda dedilhada e, ainda assim, aqueles que possuem, via de regra, uma formação prática e/ou que possuem dificuldades em trabalhar com a cola animal.

Geralmente estes construtores (luthiers, oficinas e fábricas) que utilizam colas sintéticas  farão o uso de vernizes de base sintética (como PU) que, inevitavelmente, também afetarão o resultado sonoro dos mesmos. Deste modo, com a adoção do verniz sintético que, mesmo em uma fina camada sobre a madeira, já absorverá parte das vibrações produzidas no instrumento, não há realmente motivo algum para se preocupar com a capacidade elástica do adesivo que irá unir as placas, não é mesmo?


Muitos poderão argumentar que, dentro de sua experiência, não perceberam muita diferença em termos de rendimento sonoro, ignorando outras variáveis como o projeto utilizado, a adoção de processos padronizados para garantir praticidade e/ou velocidade na produção em detrimento da falta de leitura individualizada da matéria-prima, entre outros aspectos que irão interferir também nos potenciais (neste caso, limitadores) do futuro instrumento musical.

Independente qual seja a "crença" do luthier contemporâneo, não há como deixarmos de levar em consideração as pesquisas e comprovações científicas acerca das características da cola animal que proporcionam menor interferência na resposta vibracional dos instrumentos musicais.

De qualquer modo, são estes diferentes pontos de vista e de "crenças" que garantem as inúmeras opções de instrumentos musicais que temos disponíveis. Para os menos exigentes - ou os que não acreditam que há diferença significativa -, fato, contarão com mais opções de instrumentos em todas as faixas de preço. Para os mais exigentes, o leque de opções diminui vertiginosamente e exige um investimento elevado, haja vista que estarão limitados à luteria tradicional de alto padrão.

Aliás, é importante destacar que uma fabricante de larga escala de instrumentos de cordas dedilhada, a Taylor, chegou a lançar uma série de instrumentos com uma seleção de madeiras de alto grão (high grade) que utilizaram cola gelatina justamente para garantir menor interferência vibracional.


CONCLUSÃO


Em última análise, todas as colas têm prós e contras quando se trata de usá-las para luteria. A maioria dos luthiers opta por usar cola animal devido à sua solubilidade em água, tempo de cura relativamente rápido e facilidade de remoção, mas certamente não é a única opção! Esperamos que esta rápida explicação de algumas dessas colas lhe dê uma melhor compreensão de como seu instrumento foi construído e por que escolhemos usar a cola que usamos.



Aliás. é fascinante acompanhar a cola, num primeiro momento cristalizada, se transformar durante o aquecimento em banho-maria. Outra coisa muito legal é que, como você é o responsável por adicionar água à cola, poderá personalizar o resultado. Ou seja, para quem gosta de trabalhar com colas mais espessas e pegajosas, adiciona menos água; enquanto usar mais água tornará a cola mais fina e escorregadia. Geralmente prefiro uma textura intermediária, mas o legal é que se pode escolher o ponto dependendo do que estamos colando.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BAGATELLA, Antonio. Regole per la costruzione de´violini, viole, violoncelle e violoni memoria presentata all´accademia di scienze lettere ed arti di Padova. Padova: 1786. Digitalizado pela Biblioteca Estadual e Universitária da Baixa Saxônia de Göttingen.

DANTZIG, John. The hype about Hide Glue. Premier Guitar, Sep. 2023.

DI BELLA, A., Piasentini, F., & Zecchin, R. Violin Top Wood Qualification: Influence of Growth Ring Distance on Acoustical Properties of Red Spruce. Catgut Acoustical Society Journal, Vol. 4 No. 6, 22 25, Dallas: VSA, 2002. 

HERON-ALLEN, Edward. Violin Making: A historical and practical guide. New York: Dover, 2005. 

LANARO, L. La liuteria classica i il liutaio moderno

MRYKALO, Vincent. “HOT HIDE GLUE,” n.d.

PIASENTINI, F., & Moscatti, M. (2017). Assessing Musical Instruments Conditions Before and After Restoration Using Industrial X-Ray Ct ( iCT ). In Preservation of Wooden Musical Instruments. Ethics, Practice and Assessment. (pp. 153–156). Brussels: COST, 2017. 



By Miguel De Laet June 30, 2025
RESUMO: Este artigo, fragmento atualizado do meu trabalho de conclusão de curso em Gestão Empresarial na FATEC-SCS “Antonio Russo”, busca apresentar fatos históricos importantes para o desenvolvimento da luteria e da indústria de instrumentos musicais no Brasil, assim como dados econômicos e dos seus principais personagens, levando em consideração os impactos do período da pandemia. Uma reflexão baseada nos trabalhos de Mitsuru Yanaze e Grant McCracken auxiliam na compreensão de como os produtos da indústria criativa podem se tornar economicamente viáveis. INTRODUÇÃO Luteria é um termo que se refere à palavra luth , de origem francesa, que significa alaúde, um instrumento de cordas muito popular durante a Idade Média. Assim, luthier era o artesão que construía alaúdes. Com o passar dos anos – e a evolução dos instrumentos - houve o declínio pela procura do alaúde, e os luthiers passaram a construir outros instrumentos musicais, como as vihuelas , os violões, os violinos, e, mais recentemente, os instrumentos elétricos como guitarras, baixos e até mesmo violinos elétricos. O termo luteria, apesar da praticamente extinção do alaúde, resistiu e começou a designar – de forma genérica - a arte de produzir instrumentos musicais, em especial os instrumentos de corda feitos em madeira. Não raramente o termo também é utilizado, de forma imprecisa, para designar também reparadores de instrumentos musicais, o que estende o seu uso coloquial - que também utiliza "luthieria" como variante do termo formal "luteria" - para designar todo profissional que trabalha na fabricação ou reparação de instrumentos musicais de cordas. A história da fabricação de instrumentos musicais em território brasileiro, caso sejam considerados os instrumentos de rituais indígenas, remete a tempos imemoriais, como pode ser constatado nos relatos sobre a Trombeta Jurupari. Além disso, existem registros de instrumentos musicais utilizados na evangelização dos índios nos primeiros anos de colonização sendo produzidos com o intuito de replicar os instrumentos europeus, originando a viola branca e a rabeca, por exemplo. A tradição de produzir os referidos instrumentos continua em manifestações folclóricas como o fandango caiçara. No entanto, quando se trata da atividade econômica, é forçoso dizer que a luteria brasileira iniciou no final do século XIX, em especial com os imigrantes italianos que desembarcavam no país, onde a “progressiva abolição da escravatura, antes mesmo de se consumar, com a lei Áurea, em 1888, criava a necessidade de braços para o trabalho, em especial na lavoura” (WERNECK, 2008). Num primeiro momento, estes imigrantes ocuparam a região sul do país e, logo em seguida, começaram a povoar a região paulista, cuja economia vivia um momento de expansão devido a agricultura do interior que vivia um grande momento com a produção do café, bem como o processo de industrialização da capital que estava em ritmo acelerado, o que justifica o apelido que, futuramente, receberia de “locomotiva do país”. Werneck informa que em 1900, mesmo ano de fundação da reconhecida fábrica de instrumentos musicais Giannini em São Paulo, o número de italianos residentes no Estado era calculado em 800 mil. Um dado apresentado pelo referido autor nos ajuda a dimensionar a contribuição da mão de obra imigrante no início do século XX: em 1901, 90% dos empregados nas fábricas da capital paulista eram italianos. Sendo assim, a indústria brasileira de instrumentos musicais surgiu neste momento promissor. Tranquillo Giannini, nascido em 1876, chegou ao Brasil em 1890. Não se pode afirmar se, ainda adolescente, já se havia iniciado no ramo da luteria. O que se conta é que era dotado de grande habilidade no trato com a madeira, sendo capaz de fabricar tanto móveis como peças mais complexas, carros alegóricos, por exemplo. Um dia lhe apareceu um músico pedindo que consertasse o seu violão. ´Se eu fizer um violão vai ser melhor do que este´, gabou-se Tranquillo. ´Pois eu duvido!´, rebateu o outro. O desafio, há quem diga, é que teria precipitado o jovem imigrante em seu ofício de luthier. Pôs-se a fazer violões cada vez mais elogiados, até que a demanda crescente o levou a criar, em 1900, a fábrica de instrumentos de corda que tem seu sobrenome e que, mais de um século depois, segue em atividade. (WERNECK, 2008)
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